PAPAI NOEL SEM AVIÃO
Carlos
Gaspar*
Precisei ir a São Paulo, um pouco às pressas, para retornar no mesmo passo. Não havia como fazer previsão dessa viagem. A minha resolução definitiva ocorreu três ou quatro dias antes da data que eu deveria estar naquela cidade. Procurei, então, providenciar as passagens de ida e de volta.
Jamais me passou pela cabeça que, àquela altura, conseguiria uma tarifa promocional. Estamos em quadra de festas de fim de ano e o vai-e-vem de pessoas, de uma cidade para outra, escapa ao normal. O período é atípico, de alta estação. Achava-me, então, convencido de que iria desembolsar o valor normal de um bilhete, para os dois trechos.
Quando a minha auxiliar veio dizer-me o preço para fazer face ao meu pretendido deslocamento, fiquei estarrecido. Nada mais absurdo. Cobraram-me perto de R$4 mil, para as duas pernas, como dizem na linguagem aeroviária. E a milhagem que possuo somente poderia ser usada se efetuasse a minha reserva com a antecedência mínima de sete dias.
Algo anda errado, conversei com os meus botões. E cheguei à conclusão que o importante é analisar a causa desse tipo de exploração que está se dando no país. Exploração, extorsão, aproveitamento, assalto à luz do dia, da madrugada ou da noite, conforme for o horário de partida da aeronave.
Há muito venho acompanhando a dança das companhias aéreas brasileiras. A maioria delas, das companhias, desapareceu e as que sobraram, duas apenas – a considerar somente as maiores – devem viver em permanente orgia financeira. O sistema se acha duopolizado.
Detendo-me nessa questão, começo por constatar que três das empresas nacionais que exploravam essa espécie de atividade foram entrando em colapso, até que deixaram de operar. E somente os habituais passageiros se aperceberam desse fato. É que os seus bolsos passaram a se esvaziar com mais rapidez.
Continuando na minha análise, achei por bem excluir o desaparecimento da Transbrasil e da Vasp, para não ir mais longe, ao encontro da Panair e da Paraense. O melhor é cingir esta conversa somente em torno da Varig. Para começar, acho que todo mundo sabe que ela simbolizava a própria aviação comercial brasileira. Internamente ou no exterior, o seu nome era e, de certo modo, continua sendo emblemático.
Ninguém desconhece que essa empresa, fundada em 1932, por mais de sete décadas prestou eficientes serviços. Percorreu os céus do Brasil e os intercontinentais, disponibilizando excelentes serviços de transporte de passageiros e cargas, bem como divulgando nossa cultura.
Infelizmente, uma seqüência de adversidades concorreu para que se desse sua paralisação. Além das questões internas, muito mais devem ter contribuído os prejuízos financeiros causados pela política monetária do país, ao tempo das inflações de 80% ao mês. O inconcebível tabelamento de preços, determinado pelo governo, impedia o repasse dos seus altos custos operacionais, verificados diariamente.
Portanto, esses insuportáveis ônus foram se avolumando, sob a mão de ferro do governo federal. Redundaram em sérios prejuízos, que se multiplicavam geometricamente, sem que fosse possível detê-los, a despeito de todos os planos de estabilização econômica experimentados.
Por via de conseqüência, distorceram-se as leis básicas de mercado, proporcionando lucros excessivos a uns e irreversíveis prejuízos a outros, como foi o caso da Varig. E ela viu-se na contingência de juntar aos seus problemas internos mais esse outro, de maior peso, determinante do acúmulo de imensos resultados negativos.
Haveria remédio para curar essa grave doença, que repercute, negativamente, quanto à eficiência do setor? Claro que sim. No mínimo, visto apenas sob o ponto de vista da livre concorrência, que passaria a ser representada pela triplicidade de participantes.
Incapaz de se recuperar financeiramente, pelos motivos expostos, então caberia ao governo saneá-la e estatizá-la, incorporando-a ao seu patrimônio. Empregaria o santo remédio que Fernando Henrique Cardoso usou para salvar e revigorar o sistema bancário nacional. Em seguida, após transformá-la em uma empresa equilibrada, financeira e tecnicamente, devolvê-la-ia ao mercado, através de venda pública à iniciativa privada.
Bem, o certo é que a Varig, a verdadeira Varig desapareceu, deixou saudades. Foi rateada, e um dos seus então concorrentes, para completar, fez-se, também, herdeiro do nome VARIG, que muito enobreceu a aviação brasileira.
Após mais um ano de vida proporcionado pela Graça de Deus, estamos à espera do Papai Noel. Felizmente ele chegará em um trenó, pois se viesse de avião, viagem muito cara, não poderia trazer presentes a tantas crianças, como o faz todos os anos. Feliz Natal!
*Colaborador DRT 45/91, escreve aos domingos na seção Opinião
do jornal O Imparcial em São Luís do Maranhão.
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