APONTAMENTOS SOBRE BARBOSA DE GODOIS
Carlos
Gaspar*
Interrompi por dois domingos a seqüência dos meus apontamentos acerca das figuras que fundaram a Academia Maranhense de Letras, naquele 10 de agosto de 1908. É que, na tarefa de acompanhar os acontecimentos que me parecem importantes no dia-a-dia, retomei, naquele período, o meu hábito de contador dessas histórias. Não poderia deixar que elas passassem, ausentando-me de registrar os fatos corriqueiros da cidade e do país.
Vou fugir à regra geral, a de prestar todas as reverências ao homem ora em comenta, embora muito a elas ele faça jus. Não vai nisso o menor desrespeito a esse fulgente maranhense, de muitas saudades, que foi Antônio Batista Barbosa de Godois. Bacharel em Direito pela Faculdade de Recife, incomuns contribuições ele nos deixou, através de salientes cargos que ocupou, junto ao governo do Maranhão; de suas lições como jornalista dos melhores; e não menos dos ensinamentos que destinou à juventude, tanto como professor e diretor da Escola Normal e da Escola Modelo Benedito Leite, quanto na condição de lente do Liceu Maranhense.
Talvez fosse interessante enveredar pelos liames da pedagogia, que se tornou objeto de célebre polêmica com Antônio Lobo, posto enquanto este exercia o cargo de Inspetor da Instrução Pública, Barbosa de Godois atuava como diretor da Escola Modelo Benedito Leite. O desentendimento deu-se por conta do livro Escrita Rudimentar, de sua autoria e há muito adotado por esse estabelecimento de ensino. A discordância da continuidade de aceitação dessa obra, manifestada por Antônio Lobo, foi o cerne de salutar desavença, registrada pela imprensa da época, que trouxe à luz o embasamento cultural de que, nessa área, ambos eram sobejamente providos. A discussão, no entanto, reclama por capítulos à parte.
Mas, como disse, escapando ao dito comum, passo a transcrever, por inteiro ou em parte, alguns documentos que chegaram às minhas mãos, objeto de pesquisas realizadas, tentando reconstituir a biografia dos que concretizaram a existência da nossa Academia de Letras
Escritura de reconhecimento e perfilhação que faz João Batista de Barbosa a seu filho menor Antônio Batista Barbosa de Godois, tudo como abaixo se declara = Saibam quantos este público instrumento de reconhecimento e filiação como em direito melhor nome tenha virem que no ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de 1875, aos 30 de junho do dito ano, nesta Freguesia de S. Joaquim do Bacanga, Juízo de Paz do Município da Capital do Maranhão, em meu cartório compareceu João Batista Barbosa de Godois, brasileiro, solteiro, oficial de armeiro, que reconheço ser o próprio de que trato, faço menção e dou fé. E por ele foi dito em presença das testemunhas abaixo nomeadas e assinadas que, pela presente escritura reconhecia como seu legítimo filho o menor Antonio Batista Barbosa de Godois, nascido a 10 de novembro de 1860, havido com Joana Camila de Menezes, mulher livre com que se quisesse //fl.4v// quisesse casar não haveria impedimento algum para que assim possa gozar o referido seu filho de todos os privilégio que a lei tem, garante e lhe possam pertencer, e por sua morte seja seu herdeiro conjuntamente com outras que possa ter de qualquer matrimônio que tenha de contrair. Assim o disse, outorgou, aceitou e assina com as testemunhas presentes Joaquim Maria Torres e Antonio Felipe Cayres, depois de ouvirem ler por mim que reconheço a todos, do que dou fé. E eu Paulo Francisco da Cunha, escrivão que subscrevi e assino em público e raso ___
João Batista Barbosa de Godois; Joaquim Maria Torres; Antonio Felipe de Cayres;
Freguesia de S. Joaquim do Bacanga, 6 de dezembro de 1878. E eu Severo Ângelo de Sousa, escrivão do Juiz de Paz que a escrevi e assinei.
Severo Ângelo de Sousa.
Na busca de outros detalhes que poderão ser considerados interessantes quanto ao estudo do autor de História do Maranhão, adotado na Escola Normal, para atender à disciplina curricular, chegou às minhas mãos um documentos não menos interessante do que aquele acima transcrito, dirigido ao Bispo Diocesano desta capital.
Antonio Batista Barbosa de Godois, filho natural de Joana Camila de Menezes, requer a V. Ex. Rev.ma que lhe haja mandar passar por certidão o conteúdo do assentamento de seu batismo, que teve lugar na Igreja de N. S. da Vitória da Capital, tendo sido seus padrinhos Antonio Nogueira de Sousa e sua Senhora Dona Maria Joaquina Ribeiro Nogueira de Sousa. Maranhão, 28 de maio de 1875.
Antonio Batista Barbosa de Godois
E logo, sem maiores tardanças, veio a reposta assinada pelo Arcediago Manoel Tavares da Silva.
Certifico que revendo um dos Livros findos de assentos de batismo da Freguesia de N. S. da Vitória que serviu nos anos de 1856-1863, nele não // fl.3.v // achei o assento requerido. O referido é verdade e dou fé. São Luís, 12 de junho de 1875. E eu o Arcediago Manoel Tavares da Silva, Secretário do Bispado, a subscrevi e assinei.
À luz do pesquisador, cioso em detalhar, de modo fidedigno, o tema à sua responsabilidade, tais documentos possuem um valor excepcional. Podem eles, a um determinado momento, servir de coadjuvantes à formulação de algo que muito a História venha a necessitar.
Registrem-se algumas de suas inúmeras obras, tais como Instrução Cívica, À memória do Dr. Benedito Pereira Leite, O Mestre e a Escola, Os ramos da educação na Escola Primária, e assim pode se ter uma ligeira idéia de quem foi esse grandioso homem, fundador da Cadeira nº 1, da Academia Maranhense de Letras, que partiu para a Eternidade a 4 de setembro de 1923, no Rio de Janeiro.
*Colaborador DRT 45/91, escreve aos domingos na seção Opinião
do jornal O Imparcial em São Luís do Maranhão.
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