09.11.2008

EXPLICAÇÃO NÃO CONVINCENTE
Carlos Gaspar*

Eu estava pretendendo hoje dar seqüência às pequenas referências que venho fazendo sobre as doze ilustres personalidades fundadoras da Academia Maranhense de Letras. Aliás, bem ou mal, tenho perseguido essa jornada, procurando-me entendido, com clareza, pelos meus imaginários leitores.

Na última crônica em que toquei nesse assunto, disse que dentre os apontamentos, faltavam apenas aqueles que respeitam a Antônio Lobo. Ontem, ao fazer um exame do que eu já havia escrito sobre aqueles homens de letras, deparei com a ausência de Barbosa de Godois. Assim, ele será o próximo, relatado à minha singela expressão, ao meu estilo, aqui e ali uma frase lapidada, bem ao meu gosto.

Pois bem, posto que cometi essa falha, aproveito para abordar outro assunto, refletindo acerca do que vem se dando, ultimamente, de forma pontual, na conjuntura econômica brasileira. Estou convencido, em face de como as coisas vão, mais uma vez serão prejudicados os médios empresários e o consumidor, sem falar que alguém deve estar tirando proveito disso.

O meu ponto-de-vista está justificado nas manobras que levam a sociedade a um pagamento injusto por diversos serviços que lhe são prestados, de boa ou de péssima qualidade. Algoz do povo brasileiro, o governo, em alguns casos, chancela essa conveniência oblíqua. E qualquer pessoa de bom senso concorda em que há imensa verdade no que ora estou a levantar.

Como se não bastasse, chegou a oportunidade de beneficiar, novamente, o privilegiado sistema bancário. As práticas absurdas que adota merecem repulsa da sociedade, mas infelizmente as autoridades não se sensibilizam com tais abusos.

Para evitar confusão relativa a este assunto, parece-me de bom senso não confundir determinadas situações. As circunstâncias são diferentes e para cada uma um tratamento também diverso.

Comporta um ligeiro retrospecto em razão do que se verificou, recentemente, quanto a esse setor, no período do governo Fernando Henrique Cardoso. Duramente criticado pelas medidas tomadas visando ao fortalecimento das instituições de crédito do país, estava a proteger a nossa economia contra qualquer furacão econômico, de ordem internacional, além dos que enfrentou heroicamente.

Visto que grande parte do sistema bancário brasileiro encontrava-se em situação de fragilidade, a exemplo dos bancos Bamerindus, Nacional e Econômico, restava às autoridades adotarem uma posição saneadora, para que levassem a cabo a sua hoje inquestionável decisão. E foi o que ocorreu.

A intervenção ou liquidação extrajudicial dos citados estabelecimentos se fez necessária, sob método adotado sobremaneira inteligente. Foram provocadas transferências de controles acionários e promovidas liquidações daqueles conglomerados financeiros que não mais tinham condições de sobrevivência.

Preocupado em que não viesse a ser repetida tamanha insegurança do sistema, o presidente FHC, auxiliado pelas autoridades monetárias que o assessoravam, criou o PROER – Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional.

Este programa foi produto de uma época, exatamente pela implantação da nova moeda, o Real, que nos garantia a estabilidade de preços. Estava, assim, acabada a roda de bicicleta, expediente utilizado até mesmo pelos bancos, e que não traduzia a realidade. O investidor precisava ser protegido em sua poupança.

A injeção de recursos destinados aos estabelecimentos de crédito foi substancial e a taxas de juros simbólicas. A oposição ao governo, sem alcance suficiente para avaliar a solução de tão gravíssimo problema, foi sistemática, todavia terminou vencida.

Não escaparam a essa política os bancos públicos menores, em especial aqueles pertencentes aos estados, submetendo-se todos eles a rigoroso saneamento em suas finanças e seus métodos. Havia premência de colocá-los em condições de serem transacionados, pois dificilmente um negócio “quebrado” se consegue passar adiante. E, assim, os estados abdicaram compulsoriamente dos seus frágeis bancos, outrora de muita utilidade, e que hoje em dia serviriam apenas de cabide de emprego e incontáveis falcatruas.

Ocorre, agora, a fusão entre o Unibanco e o Itaú, que, a meu ver, trata-se de verdadeira imoralidade. Ambos são fortíssimos e poderiam caminhar, isoladamente, passo a passo, tal como vinham procedendo. A crise que foi deflagrada há pouco tempo, de caráter mundial, não justifica tal procedimento. Os bancos, os grandes bancos como esses, têm ganhado muito dinheiro e se acham sadios. Nenhum dos dois e muito menos qualquer outro, entraram em polvorosa por conta do desajuste que vem abalando o mundo. Sinal que o nosso atual sistema está mito forte, graças à política, nesse setor, desenvolvida pelo presidente FHC.

Essa associação entre o Unibanco e o Itaú jamais poderia ser consentida. Ela produz uma enorme concentração financeira, e tem como conseqüência a redução da competitividade, o enriquecimento ainda maior de ambas e demais instituições, em detrimento daqueles que tomam recursos visando a desenvolver seus negócios.

Qual a vantagem para o nosso país, com a fusão do Itaú com o Unibanco, por haverem se tornado um dos maiores bancos do Mundo, que ultrapassa até mesmo o Banco do Brasil? A desculpa da crise que envolve o setor bancário global não convence. Falta uma explicação convincente, para que seja aceita essa surpreendente junção. Ou, talvez, ela esteja implícita e eu não a percebi.

*Colaborador DRT 45/91, escreve aos domingos na seção Opinião
do jornal O Imparcial em São Luís do Maranhão.
E-mail: pgaspar@elo.com.br